sábado, setembro 19, 2015

Afugentando Ilusões

Para se conhecer ou tentar conhecer uma corrente de pensamento ou mesmo episódios e fatos históricos é necessário que se procure consultar, ou seja, estudar, todos os vieses. Em suma, ler tudo a respeito do tema.

Um exemplo que as pessoas quando estudam o islamismo acabam deixando despercebido é situação política durante o Califado Omíada em Córdoba. Durante este período que vai de 929 a 1031 a região viveu uma época de máximo esplendor político, cultural e comercial em Al-Andalus. Muita gente que aprecia este período pelo seu esplendor cultural pode cair em uma ilusão perigosa.

Pode-se dizer que foi um período, em que pese alguns distúrbios como os mártires de Córdoba entre 850 e 859, no qual as três religiões monoteístas viveram debaixo de uma relativa harmonia.

Lembrar que enquanto na península Ibérica os Omíadas dominavam não era mais, desde 750, esta dinastia que dominava o resto do islamismo no mundo e sim a dinastia Abássida que, em Damasco, havia praticamente aniquilado os Omíadas. Abderramão I único sobrevivente do massacre dos Omíadas pelos Abássidas, em Damasco, fugiu e acabou fundando a dinastia Omíada, na Hispânia, em 756.

Qualquer um que se aventure a estudar a Espanha do 9º e 10º séculos inevitavelmente vai topar com o esplendor da civilização Omíada naquele período. Todavia, em contraste com o sucesso muçulmano nas artes, literatura, filosofia e arquitetura os muçulmanos eram muito menos exitosos como políticos e todo o período foi marcado por rivalidades colocando muçulmanos contra muçulmanos, destruindo o que quer que realizassem.

E a razão para isso está em uma ausência no Alcorão. O livro sagrado do islamismo regula absolutamente tudo na vida do muçulmano desde as questões religiosas aos simples atos dos costumes do dia-a-dia, mas não tem uma só palavra sobre organização política. Este fato causou a sempre conturbada mudança de poder no mundo islâmico e no fundo contribuiu como nascente para radicais como o ISIS.

Por que estou apresentando esta situação do Califado de Córdoba? Para afugentar ilusões. Em outras palavras, o que aconteceu na dominação da península ibérica não se pode tomar como padrão possível hoje em dia para uma dominação muçulmana. Os séculos de segmentação do islamismo com o surgimento de diversas correntes radicais tornaram impossível o islamismo moderado.

Na verdade, a magnificência do Califado de Córdoba conhecido pelos muçulmanos como Qurtaba foi destruído não pelos cristãos, mas por seus companheiros muçulmanos, Os Almorávidas, uma tribo do norte da África. O califado transformou-se a partir de 1031 em uma série de reinos, as Taifas, ou emirados.

O domínio muçulmano só viria a ser inteiramente restaurado pelo cristianismo, através da reconquista em 1492, Com Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, os reis Católicos.

quarta-feira, setembro 09, 2015

Filosofia de Youtube: Produto Da Pátria Educadora


Hoje enquanto me dirigia para a os exercícios de reabilitação cardíaca, que faço regularmente por exatamente um ano, desde que tive que colocar 2 "stents" na coronárias, ouvi no rádio do carro notícias sobre um tumulto acontecido ontem na Bienal do Livro, com mães protegendo a integridades de seus filhos contra o que alegavam ser uma desorganização da Feira no gerenciamento da presença de mais de 5.000 adolescentes e crianças que desejavam um contato com a Youtuber (sim existe este negócio) Kéfera Buchmann, que lançava seu livro de memórias no evento. Davam também a informação que a Youtuber possuí mais de 5,5 milhões de seguidores em seus canal no Youtube.

Bom, fiz meus exercícios e a primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi verificar quem era a Youtuber e o porquê do tumulto e presença de tantos jovens.

Vão dizer que por ter dois "stents", devo ser um velho, pouco antenado com a modernidade, pois o que vou dizer sobre esta moça não é nada agradável. Velho sou, mas não posso dizer que não seja antenado com a Internet, participo dela desde seu nascedouro no Brasil e fui um dos 500 congregados pela Embratel bem no seu início em 1994, para um projeto piloto, mas isso não que dizer que seja alienado, culturalmente, para gostar deste lixo produzido por esta nova classe denominada Youtubers.

Constatar como e onde são produzidas as besteiras e futilidades que nutrem a nossa adolescência, carente de fontes de saber é o caminho mais fácil de entender o estado da cultura em nosso país. Para começar uma pessoa de 22 anos que lança um livro e o considera sua biografia, já é por si só é um atestado de que, provavelmente,  dentro da cabecinha da vlogueira (outra modernidade) tem apenas geleia que, obviamente, ela imagina ser o seu cérebro.

Não vou perder tempo descrevendo o lixo que brota do conteúdo desse Canal do Youtube, seguido por quase 6 milhões de idiotas alienados, qualquer um pode ir lá e constatar.

É um enorme paradoxo, visto que a própria Internet pode ser o veículo para gratuitamente serem obtidas as obras dos grandes filósofos e escritores da humanidade, obras que forjam consciências, mas a nossa juventude prefere ouvir as verdades sem conteúdo de uma encantadora de teenager com o apoio da famílias, igualmente alienadas. São os produtos da Pátria Educadora! 


Cada país tem o filósofo que merece e os nossos são as Keferas Buchmans da vida.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Adeus aos Olavetes


Recentemente me filiei à rede TheRealTalk, uma iniciativa de Olavo de Carvalho e seu grupo.

Não sou discípulo de Olavo ou “Olavete” como alguns denominam o séquito de admiradores que se curvam em adoração ao, autodenominado filósofo, Olavo de Carvalho. 
Não nego que algumas ideias do Olavo me agradam e exatamente por elas embarquei nesta aventura, mas não concordo com muitas coisas que ele propaga, em especial sua intelectualmente suspeita adesão a um catolicismo fundamentalista, depois de uma história com astrologia, esoterismo e até misticismo islâmico. Possivelmente, essa conveniente conversão tenha a ver com se situar sobre o tecido de um segmento cultural religioso mais adequado a propiciar um sectarismo em torno de suas ideias. 

Eu apenas procurava a rede nova como uma alternativa para o Facebook, onde o terreno é recheado de abobrinhas que torna impossível a sustentação de qualquer debate sério.

Já estou na nova rede por 15 dias e ela apresenta os mesmos tipos de problemas do Facebook, o que não é de se espantar, pois é um aglomerado virtual dos mesmos seres humanos que habitam o Facebook. Então, é claro, logo se percebem os "desmascaradores", os vigilantes macartistas, os donos da verdade, mas existe uma espécie nova; os discípulos de Olavo, que batem palma para tudo que seu mestre publica sem contestação ou análise.

Tentei me colocar distante das “verdades” cristãs e minhas postagens se concentraram mais na política e história, onde abordei, preferencialmente, o problema da ameaça mundial islâmica e logrei até ter um comentário e uma curtida do próprio Olavo de Carvalho.

Para conhecer Olavo procurei ler suas obras de cunho filosófico, em especial Jardim das Aflições, Aristóteles em Nova Perspectiva e a Nova Ordem Mundial, cujas resenhas produzi e publiquei na Amazon. Respeito Olavo e sua vasta cultura, mas me reservo o direito de não ser discípulo cego.

Acontece, que começa a me aborrecer a enxurrada de postagens religiosas enaltecendo A ou B ou C da doutrina católica e criticando o Papa Francisco, por sua aparente adesão à agenda 21 e outras decisões, o que por acaso me parece até algo a ser considerado, principalmente quando a grande mídia começa a endeusá-lo. Também incomoda o fato de a maioria dos “olavetes”, pelo menos os tradicionais, seguir estritamente a tática do mestre de trocar argumentação por palavrões e grosserias e ataques ad-hominem. Então, na linha do tempo do TheRealTalk proliferam expressões como “vai tomar no cu” e outras similares.

A gota d’água que encheu meu copo foi uma postagem de um fã de Olavo com um vídeo do próprio Olavo criticando supostamente ateístas e as pesquisas sobre Jesus Histórico. As análises do Olavo para criticar os estudos do Jesus Histórico, que na sua maioria são estudos filológicos e históricos profundos realizados por judeus, ex-cristãos ou até mesmo cristãos praticantes, e não necessariamente por ateístas, são de um primitivismo e uma superficialidade que irrita e ofende a inteligência. Mas, obviamente, elas recebem o aplauso e a adoração intelectual de toda a sua trupe de seguidores. Eu já havia visto um outro vídeo do Olavo em que ele se referia aos ateístas e agnósticos como criminosos imputando-lhes os crimes do comunismo como se fossem deles, perpetrando um descarado sofisma. Foi nesse momento que a
té pensei que poderia ser excluído, pois nos comentários manifestei minha independência em relação ao mestre frente a este tema. Mas, como o comentário não foi em uma postagem do próprio, acho que passou batido.

Não vou sair, pois encontrei pessoas com quem realmente vale a pena interagir, mas não vou participar tanto como vinha fazendo diariamente, até mais do que no meu Facebook. Pensei que encontraria um ambiente em que obteria novas informações, debates profícuos e referências bibliográficas e percebo que o espaço apesar de servir bem a este propósito também está contribuindo para aumentar meu conhecimento de palavrões e novas expressões chulas para descrever o momento brasileiro atual. Vou me manter orbitando como alguns que, como eu, não são inteiramente conectados a tudo que o Olavo escreve e doutrina, trocando ideias com pessoas que, sei não são poucas na rede, também passam ao largo das discussões religiosas, tanto quanto possível.

Adeus Olavetes! Estou por aqui, mas na minha!

terça-feira, setembro 01, 2015

Estudo Em Casa


O Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se o ensino domiciliar (“homeschooling”) deve ser proibido pelo Estado ou “viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela família, do dever de prover educação”, tal como previsto no artigo 205 da Constituição.

Trata-se de uma opção cuja escolha vem crescendo entre as famílias que não desejam expor seus filhos à doutrinação marxista que o MEC promove no ensino público, bem como as abjetas teorias da identidade de gênero, que incluem Kits Gay e etc., sem falar da péssima qualidade do ensino oferecido pelo Estado. Algumas destas famílias desconhecem que, por enquanto, está opção é criminalizada no Brasil, como crime de abandono intelectual.

Na nossa opinião nada mais justo, embora isto envolva algumas complicações no sentido da regulamentação, pois seria necessário um cadastro de famílias com potencial para exercer o ensino em casa, bem como seria necessário uma forma de controle. A necessidade do cadastro é óbvia, pois famílias que não preencherem os requisitos para educar seus filhos em casa poderiam usar o benefício para afastá-los da escola criando mais problemas sociais, inclusive com a possibilidade de proporcionar o aumento do trabalho infantil. Quanto ao controle, sua necessidade também é evidente, pois o Estado não poderia se omitir sobre a qualidade desta opção de ensino.

Como exemplo de controle poderíamos tomar como modelo o estado de Nova York, nos EUA, onde os passos necessários para uma família que quer educar seus filhos em casa envolve notificar a secretaria da educação antes do início do ano letivo, preencher um documento sobre qual será o plano de educação (currículo), manter o registro de datas e horas das aulas por pelo menos 180 dias por ano, enviar um relatório a cada trimestre explicando os temas tratados e o desempenho do aluno e, por fim, enviar um relatório final anual, juntamente com o relatório do quarto trimestre, com uma avaliação escrita sobre o aluno. Alguns estados ainda aplicam testes independentes a cada ano para testar os estudantes, mas a avaliação geral é efetivamente feita com as provas nacionais chamadas SAT e ACT, pré-universitárias – o “Enem” norte-americano. Normalmente, a pontuação dos estudantes “caseiros” é vários pontos mais alta que a média."

Portanto, se o STF, finalmente, vier a aprovar esta modalidade de ensino, ainda existe um longo caminho a percorrer.